notas sobre o deserto#2

Mleeta Resistance Tourist Landmark, Líbano | Ambroise Tézenas


Secreção do tempo. Desta estação da nossa História.
Mais que a esteticização do mal – moral ou natural – é a transformação e espectacularização da miséria. De caminho, tudo transformado em experiência, logo, transaccionável. O mundo, a história, o sofrimento, a capacidade de tudo se colocar no mercado. O humano, luminoso e sombrio, no que de mais íntimo tem, sujeito à lei da oferta e da procura. E sabemos como se regula essa lei: des lieux de mort devenus des destinations touristiques
.


Uma série, por exemplo, I Was There. Como de alguém proveniente das classes-médias ocidentais a quem as low-cost e o indolente estado social proporcionam uma semana de álcool e alienação em Ibiza. e profusamente a regista em selfies propagadas pelas redes sociais. Perfis que amontoam experiências atrás de experiências, consumo sobre consumo. Espectadores passivos do mundo e da vida que consumimos olhamo-los/nos com o olhar entorpecido, narcotizado, distorcido, degradado, pelo valor meramente utilitário com que as coisas são trocadas.