Elogio da Lonjura










Na fonte de teus olhos
vivem os fios dos pescadores do mar-errância.
Na fonte dos teus olhos
cumpre o mar a sua promessa.

Coração
entretido entre os homens, aqui arremesso
minhas vestes e o fulgor de um juramento:

Mais negro no negro, estou mais nu.
Só sendo traidor sou fiel.
Eu sou tu quando sou eu.

Na fonte de teus olhos
vogo e sonho a pilhagem.

Um fio prendeu um fio:
separamo-nos enlaçados.

Na fonte de teus
um enforcado estrangula a corda.


[Elogio da Lonjura | Paul Celan / Trad. Gilda Lopes Encarnação + Sede EDP, Aires Mateus & Associados, Lda., 2014]