natureza das coisas

The fact that many architects seem compelled to seduce and dominate those around them—whether patrons, junior partners, paramours, or some combination thereof—has been part of the popular image of the profession for much of the past century. The highly publicized extramarital-sex-and-murder scandals that embroiled Stanford White and Frank Lloyd Wright during the early 1900s ushered in an age when master builders began to comport themselves more like freewheeling Romantic artists than exacting Medieval masons.

By the late twentieth century, however, major architects flouted conventional morality without the professional repercussions suffered by Wright: Louis Kahn sired three children by three women, only one of them his wife; Rem Koolhaas has long commuted between a spouse in London and a mistress in Holland. And for decades, some of the most sought-after designers in the field have also been known for their cavalier treatment of not only their mates and closest collaborators but also their clients, who often believe they are fortunate to pay any price for proximity to greatness.

Henrik Ibsen had already anticipated these issues in his play The Master Builder, originally published as Bygmester Solness in 1892. This architecturally themed drama, currently being given a revival directed by Andrei Belgrader at the Brooklyn Academy of Music’s Harvey Theater, concerns the complicated relations—professional and personal—of Halvard Solness, an architect whose high reputation is matched by an all-consuming egotism that borders on, and perhaps crosses over into, the delusional. Ibsen vividly captures the underlying anxiety that seems to wrack even the most acclaimed architectural geniuses, who no matter how famous must vie for commissions before they can execute their art, and live in constant dread of challenges from younger, more forward-thinking talents.

For the Norwegian dramatist, whose exploration of interior life represented a major advance in modern theater, this late play was partly autobiographical, as he himself acknowledged: as Ibsen got older he became more obsessed with younger women, and there has long been speculation as to which of his youthful lady friends the character of Hilda Wrangel might be based on. Yet its larger subject also reflected an essential shift in the status and stature of builders in the burgeoning industrial age.

At one point in the play Solness explains that he must call himself a master builder rather than an architect because he has not officially qualified as the latter, a distinction that denotes his having apprenticed in an architect’s office rather than having attended a more prestigious architecture school. And his move away from designing churches to concentrating on family residences parallels the growing interest of the fin-de-siècle architectural avant-garde in private patronage, which welcomed innovation and experimentation far more than did the tradition-dominated public sphere.
(...)

Ibsen’s Broken Homes, The New York Review of Books







Primeiro Acto
SOLNESS (empurra a cadeira para mais perto e senta-se) Falando a sério, porque é que veio cá? Na realidade veio aqui fazer o quê?
HILDE Oh, em primeiro lugar quero andar por aí a ver tudo o que o que o Senhor construiu.
SOLNESS Então vai ter muito que andar.
HILDE Pois é, eu sei que construiu muitíssimo.
SOLNESS Pois construí. Sobretudo nos últimos anos.
HILDE Muitas torres de igreja? Altíssimas, também?
SOLNESS Não, agora já não construo torres de igreja. E igrejas também não, aliás.
HILDE Então agora constrói o quê?
SOLNESS Casas para pessoas.
HILDE (pensativa) Não podia construir também assim… assim uma pequena torre nas casas?
SOLNESS (intrigado) Que quer dizer com isso?
HILDE Quero dizer uma coisa que aponte para o alto, assim livre, pelo ar dentro. Com um cata-vento tão alto que até dê tonturas.
SOLNESS (pensa um pouco) É muito estranho que me diga isso. Porque é precisamente isso o que eu mais queria fazer.
HILDE (impaciente) Mas então porque é que não faz?
SOLNESS (abana a cabeça) Não, porque as pessoas não querem.
HILDE Imaginem… não querem!

Segundo Acto
SOLNESS E agora nunca mais construo nada assim, nunca mais! Nem igrejas, nem torres de igreja!
HILDE (acena com a cabeça lentamente) Só casas em que as pessoas possam morar.
SOLNESS Casas para as pessoas, Hilde.
HILDE Mas casas com torres altas, que terminam em agulha.
SOLNESS Sim, de preferência. (Num tom mais leve:) Pois, está a ver, como eu disse, esse incêndio fez-me levantar voo.
Como construtor, claro.
HILDE O senhor não se diz arquitecto, como os outros, porquê?
SOLNESS Não tenho instrução que chegue. O que eu sei, na maior parte, aprendi e descobri por mim próprio.
HILDE Mas mesmo assim levantou voo, Construtor Solness.
SOLNESS Graças ao incêndio, sim. Dividi o jardim quase todo em talhões para construir vivendas. E pude lá construir exactamente como eu queria. Tudo me correu lindamente.
HILDE (olha interrogativamente para ele) O senhor decerto é um homem muito feliz. Tal como está na vida.
SOLNESS Feliz? A Menina também diz isso? Como os outros todos.
HILDE Sim, acho que deve ser.
[...]
SOLNESS (continua a fitá-la) Quando lhe contei isto do incêndio… hum…
HILDE Sim?
SOLNESS Não lhe ocorreu nenhuma ideia em especial?
HILDE (reflecte em vão) Não. E que ideia seria essa?
SOLNESS (em voz baixa, marcando bem as palavras) Foi única e simplesmente só depois desse incêndio, e graças a ele, que fiquei em condições de poder construir casas para as pessoas. Casas bonitas, confortáveis, cheias de luz, nas quais o pai e a mãe e a criançada toda pudessem viver seguros e sentir como é bom viver neste mundo. E, acima de tudo, serem uns para os outros, tanto nas coisas grandes como nas pequenas.
HILDE (entusiasmada) Sim, e então não é para si uma enorme felicidade poder construir assim essas maravilhosas casas?
SOLNESS O preço, Hilde. O preço terrível que tive de pagar para o conseguir!
HILDE Mas não será possível superar isso?
SOLNESS Não. Porque para conseguir construir as casas para os outros tive de renunciar, de renunciar para sempre, a ter uma casa para mim. Quer dizer, uma casa para a criançada. E para o pai e a mãe também.
HILDE (cuidadosa) Mas teve mesmo? Para sempre, como diz?
SOLNESS (acena com a cabeça, lentamente) Foi o preço da felicidade, de que me fala essa gente. (Respira pesadamente:) Essa felicidade… hum… essa felicidade não foi nada barata, Hilde.
[…]
SOLNESS Nunca reparou, Hilde, que o impossível como que nos seduz e chama por nós?

Terceiro Acto
HILDE Que quer dizer com isso?
SOLNESS (olha para ela desanimado) Isso de construir casas para as pessoas não vale cinco cêntimos, HIlde.
HILDE E diz isso agora?
SOLNESS Sim, porque agora sei. As pessoas não precisam dessas casas para serem felizes. E eu também não precisaria de uma casa assim. Se tivesse alguma. (Com um riso tranquilo e amargo:) Sabe, é este o meu balanço completo, tanto quanto posso ver para trás. Na realidade, nada construído. E também nada sacrificado para poder construir qualquer coisa. Nada, nada de nada.
HILDE E de agora em diante não quer construir nada de novo?
SOLNESS (vivamente) Ah, sim, é agora mesmo que quero começar!
HILDE O quê? O quê? Diga-me!
SOLNESS A única coisa em que a felicidade humana se pode alojar – isso é o que eu quero construir agora.
HILDE (olha fixamente para ele) Construtor, agora está a referir-se aos nossos castelos no ar?
SOLNESS Os castelos no ar, exactamente.



[O Construtor Solness, Henrik Ibsen, 1892]