O PÃO NOSSO DE CADA DIA

 79.
A última voz do mundo
não assemelha a um limite,
mas sim um pedaço de teixo
lançado já sem o estorvo
de ter que acertar.
Animal magro
que se aquece ao sol de um novo hábito,
o de vaguear sem boca e sem ouvido,
medula apenas de voz,
som articulado que avançou demasiado.
Mas sem catástrofe nem luto:
simplesmente sem regresso.
Como um pensamento nocturno
que de improviso desliza
do espaço da noite
para a noite do pensamento.



[Segunda Poesia Vertical | Poesia Vertical / Roberto Juarroz, trad. jac]