breves inquietações de um sujeito-arquitecto

Acredito quando afirmas a possibilidade de inscrever na parte de trás de um bilhete de autocarro o que distingue uma construção de uma obra de arquitectura. É admirável essa capacidade de síntese. Confesso a minha incapacidade para tal sintética descrição, até porque os bilhetes de autocarros são cada vez mais reduzidos e com a parte de trás estampada por estereotipadas turísticas imagens (passe o pleonasmo) da cidade que o autocarro sirva. Além de que existem, ao que se conhece, dois milénios e meio, pesada literatura, muita polémica, sobre o assunto.
Antes de perguntar o como, tem-me ocupado mais o porquê. O porquê da arquitectura. O porquê da vontade, individual, do sujeito-arquitecto, colectiva, da comunidade humana, de juntar umas pedras, elevá-las ao céu, cobri-las com tecto - partindo do princípio que a arquitectura arranca a História na pedra e não na madeira, outra antiquíssima disputa.
É que quando penso nisso recuso o tipo de trivialismo com que, por exemplo, Graça Dias aqui despreza a casa. A Casa e o Mundo. Porque nem só de Cidade se faz o Mundo e, tão pouco a cidade é metáfora da vida como ela é. E talvez a casa seja mais mundo do que hoje, encadedeados, possamos admitir.
Porquê.
[Adão Protege-se da Chuva, Filarete]