Rasurar o mapa do conhecimento, todas as possibilidades são maiores no não conhecer: um edifício baptizado Oscar Niemeyer que, com certeza, se o souber, o abjurará, no seu monumentalismo para-fascista, longe do desejo imenso da liberdade da elegante e infinita curva niemeyriana; Le Corbusier aqui, daqui, detestava a Baía da Guanabara, como detestava Manhattan, como não contava com o indivíduo e a sua irrazoabilidade, na infinita utopia cartesiana – Le Corbusier terá saído de 30 dias daqui a pensar noutra techné que não a da razão; Oscar Niemeyer emulado em brise-soleil repetitivos e burocráticos, como perplexidade diante do estatuto da obra arquitectónica na era da reprodução técnica; calcário importado no embasamento do clube dos empresário, a ostentação do poder sobre o solo antigo de granito; homens graves de fato vincado e gravata italiana, a calcular o optimismo do Brasil BRIC, um mulato de terno tropicalmente aprumado, descamisados cobertos de camisolas do Flamengo, mulheres bonitas e tristes; a boca do metro dentro de um mercado de produtos hip-hop, tanto quanto uma t-shirt do Barcelona FC ao som ruidoso de Beyoncé; edifícios do capitalismo concreto, monumentais monólitos na era i’m a whore Phillip Johnson Sony Building, igrejas coloniais, blibliotecas reais – D. João VI fez embarcar os livros e o prazer e a loucura; viadutos barreira amplificadores do ruído ensurdecedor das máquinas portuárias.
Rasurar o mapa é nem sequer desejar ter mapa. Um passo em frente, outro errado, da larga Av. Presidente Vargas – um ditador adorado? – ao lado a favela. Rasurar o mapa é o melhor. E construir um caminho como os construtores das favelas: recolher reconhecer roubar a matéria e as sobras das cidades e da vida, sem projecto, logo sem um tempo de um fim.
Rasurar o mapa: vibração distorção.