juntar árvores


[Parque do Buçaco#711, Gabriela Albergaria, 2007]

Às vezes os problemas arquitectónicos são problemas religiosos e vice-versa.
Gonçalo M. Tavares, Capela do Rato, 05.05.2010

Por hipótese, ser tarefa da arquitectura tornar visível o que ainda não é. E se é do espaço que falamos quando falamos da arquitectura, é um trabalho sobre o invisível dentro do invisível. Evidentemente, há a matéria anterior. A dos lugares, das intenções, dos desejos, das possibilidades. E por isso será a arquitectura essa tecnê: técnica, que às tantas o escritor trocou por tecnologia. Ser também uma tecnologia da construção é condição – e regresso sempre, todos os dias, a Construir Habitar Pensar, ao esforço do homem que habitava uma cabana Floresta Negra, da desocultação das coisas que desvela a continuidade, a contiguidade, a sobreposição, a aposição do construir com o habitar - e esse acto contínuo, lento, rigoroso, amoroso, como possibilidade do conhecimento do real.
A agricultura, mais que o jardim, a cultura da criação do alimento, a organização a que se procede da natureza, do território, da paisagem, dos lugares, num gesto de necessidade e ligação à Terra – depois, Mundo – como juntar dois ramos de árvores derrubadas.

Outra hipótese, a da tecnologia, da instrumentalização do conhecimento, nos conduza ao excessivo ruído desta época. Como nessa igreja na cidade do México, cheia de orações electrónicas, descarnadas, frias como o metal que as anuncia.
E a hipótese é ser dessa colisão impensada do exterior - veloz, velocíssimo, feroz, despido de memória e construído de necessidade ou distracção – com o interior – moroso. Porque é também a igreja um lugar que a tecnologia ergueu. A partir da técnica da respiração das coisas.

E depois propuseram-me, no regresso, que talvez essa respiração, esse ritmo único e primitivo das coisas, hoje só se encontre nas ruínas.