a organização colectiva de construções individuais#2


Luísa Figueira, Jornal Nacional TVI, 11.01.2010

António Costa Amaral
um texto corporativista a chamar outro gajo de corporativista, isso está bonito
4 hours ago


Correr o risco de se ser apelidado corporativista é isso mesmo, um risco. Irrelevante, que seja. Seja da era cínica em que nos movemos, qualquer palavra, qualquer afirmação, a defesa ou ataque a qualquer coisa, será sempre o tópico de uma qualquer agenda. E não descuro o interesse por que o humano se move, mas é insólito ser acusado de corporativista quando se persegue uma ideia de desmantelamento do corpo de classe: sejamos rigorosos, ainda é a que motiva o grosso das estruturas profissionais do país, provavelmente em pesada herança cultural, pobre, do anterior regime.
E a recusa dessa ideia interesseira da corporação, que servirá apenas a ideia de uma sociedade do ressentimento – prova-o o texto de Santo – não é a recusa de deveres e direitos a que cada um estará sujeito pelo contrato social.
O que deixa qualquer um perplexo no texto de Santo - arquitecto ou liberal ou indivíduo com um módico de urbanidade - é, justamente, alimentar-se de uma ideia obscurantista e mesquinha do trabalho do arquitecto, sem qualquer adesão à realidade, sem o mínimo entendimento da História das duas disciplinas, sem a mais vaga noção cultural do que é a intervenção do arquitecto, o arcaísmo em que pensa a relação do arquitecto com os engenheiros das diferentes especialidades – Santo omite o paisagismo como disciplina que converge também em projecto, por que será?
Ao isolar a arquitectura do mundo, e sobretudo da construção, Santo dá voz à famosa e idiota anedota que reduz o trabalho do arquitecto e da arquitectura a mero fachadismo. A arquitectura não é uma técnica de edificar, nem é decoração de fachadas, nem um recurso radicalmente subjectivista a contrario do que será o pretenso, também radical, objectivismo e precisão da engenharia. A arquitectura é, também, um esforço colectivo, resultado de múltiplas vontades e saberes. Talvez seja isto que Santo ainda possa entender.

Quanto ao protagonismo corporativista, não me acusem: proponho a dissolução da Ordem dos Arquitectos.