a arquitectura não será televisionada*
[Edifício de Habitação Multifamiliar, Rua Rodrigo da Fonseca, Lisboa]
Há sempre qualquer coisa de inquietante quando um arquitecto decide que uma construção nova terá de se expor através de uma linguagem que se furta ao tempo presente, à época, a épocas do dito miesiano.
Se é a crise o mote, será a crise maior que a económica, a cultural, que legitima este permanente recuo do que se vive, em busca de um refúgio, de uma protecção que ao mesmo tempo sirva de equilíbrio entre as exigências de «gosto» da procura – coisa sempre acrobática esta de se pretender saber o gosto das massas – e a necessidade de retorno rápido do investimento.
Pode ser uma atitude reaccionária. Que só possa ter lugar numa sociedade, com dizem, neo-liberal, de hiper-individualismo egoísta. Admitamos. Ainda assim, será sempre uma sociedade preferível a outra em que a beleza se emita por decreto.
*Gil-Scott Heron
- | João Amaro Correia / 25.4.10
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