Zé do Pipo no país das maravilhas

As 1001 Noites, Vol. 1, O Inquieto | Miguel Gomes | Portugal / 2015


O mais espantoso no cinema de Miguel Gomes é o milagre. E a recusa do cinismo.
A sensibilidade com que as personagens são filmadas e, muitas delas, a simplicidade com que crescem e inadvertidamente nos colocam na desconfortável posição de alguém que volta a acreditar (em qualquer coisa de humano).
Se a personagem principal de As 1001 Noites – O Inquieto somos nós, Portugueses, enquanto comunidade, tal só se compreende a partir das personagens singulares – tantos de nós – que a suportam. Assim como a vida que nos junta em comunidade é mais que o somatório de cada um dos nossos percursos singulares, o filme de Miguel Gomes, é mais, muito mais, que as tragédias, as pequenas ou grandes misérias, as virtudes e as fragilidades de cada personagem.
A verdade da experiência cinematográfica de As 1001 Noites – O Inquieto é o incessante trabalho de tactear uma sociedade deprimida, abatida, depauperada, sem esperança, por entre um amoroso labor de aproximação a cada uma das personagens (que poderia ser cada um de nós). Labor, entretecido entre o documentário e a ficção, feito de riso e lágrimas, de esperança e angústia, enfim, da argamassa que nos cola à Vida e uns aos outros.