maison perversion

Admitir a Glass House como manifesto queer avant-la-lettre poderia não passar de uma blague drole não fossem os tempos de chumbo do revolucionário processo de inversão em curso que vivemos. E não se afiguraria mais sério se o caso não fosse o da hegemonia académica, mediática e política, da alucinada proposta revolucionária, ainda que edulcorada em doses massivas de sentimentalismo e consumismo aparentemente emancipador mas, em rigor, absolutamente alienantes.
A perversão de fundamentar uma tese numa visão particular do mundo em vez de a abrir, justamente, à surpresa do mundo e da realidade é, de facto, a perigosíssima doença que varre toda a comunidade científica, sobretudo nas humanidades. Enfim, o camp não nega o seu grotesco.

Fundamentar no desenho arquitectónico uma possibilidade redentora é sortilégio da mesma extracção com que Platão ergueu Kallipolis na sua República: uma cidade dirigida pelo filósofo-legislador o qual, arbitrariamente, define o que é o Bem, logo a justiça.
Excluindo a ideia de Bem da sua fonte transcendental abrem-se as portas a todas as arbitrariedades. A pretensão revolucionária produz, ao fim de contas, a redução do homem a si mesmo, através da hostilização e anulação das instituições naturais intermédias, abandonando-o, só, perante a máquina totalitária do Estado.
Em parecendo descabido, o recurso à Atenas do Séc. V a.C. para se chegar a New Canaan, Connecticut faz todo o sentido se nos ativermos à visão moderna do arquitecto e da própria arquitectura. A ilusão heróica e redentora, o vício pedagógico e transformador, que perseguirá o homem sempre que se esqueça da sua inexorável natureza servil. Já em Platão se exibia a visão totalitária que os sacerdotes impostores do progressismo e do experimentalismo social, com o seu cortejo de santos, pecadores e horrores, nos apresentam como libertadora.



Oikema, Maison du Plaisir | Claude-Nicolas Ledoux /1789


Nem Ledoux, por exemplo, chegou tão longe na engenharia social.