Quando terminei, todos se retiraram para os seus quartos,
ficando só nós os três. A senhora trouxe-me uma camisa branca de dormir e umas
meias. Fiz uma vénia e disse:
- Não quero as meias, mãezinha. Nunca usei meias. Estamos habituados
a andar de onutcha.
Então ela foi buscar um velho kafkan de seda fina, e
rasgou-o em duas onutchas. O marido disse:
- Os sapatos deste pobre estão a desfazer-se. Traz as tuas
galochas, as grandes, para ele calçar por cima. Depois virou-se para mim,
dizendo:
- Vai para aquele quarto, não está ali ninguém e muda a
roupa.
Fui, vesti-me e vim de novo para junto deles. Sentei-me na cadeira
e começaram a calçar-me. O senhor enrolou-me as onutchas à volta dos pés e das
pernas e a senhora calçou-me os sapatos. Eu não queria, mas eles insistiram,
fizeram-me sentar e disseram-me:
- Senta-te e cala-te. Cristo lavou os pés aos seus
discípulos.
Não havia nada a fazer e comecei a chorar. Também eles
choraram.
|
|