aprender a rezar na era da técnica#2

[Holy Motors, Leos Carax, 2012]






Cinema sobre cinema. Um filme sobre filmes. Imagens sobre imagens.
Representação sobre representações. Aprender a rezar na era da técnica: Holy Motors é exactamente a tecnologia da(s) imagen(s). A máquina do olho, o grande olho que nos olha, a luz permanente que só acende obscuridade. Labirinto de imagens de imagens sobre imagens, soterrada, sobra uma única questão: quem sou eu? – a ruína sobre a qual se construirá a nova casa.
O paradoxo do actor: atravessamos o dia e o outro – o próximo – numa sucessão de papéis e construções e auto-construções que nos são incompreensíveis. E o labirinto das imagens transforma-se no nosso próprio labirinto. Quem sou eu? A tecnologia da imagem é, agora, a tecnologia do ser.
Onde mora a verdade? O que é a verdade? Que verdade é a minha? Sou eu este ou é esta a minha representação? Qual é o meu rosto? E o teu?
O real estende-se pelo ecran. Paris só a vemos pela televisão. A lareira é flatscreen. O real estende-se sem redenção possível, de representação em representação, sem sentido nem explicação. O real extingue-se no ecran.
Grotesco ou belo, que vemos quando olhamos? Que máquina, que motor, produz o belo?
Agora, o realismo é surrealista. Nada existe sem prova de vida: uma imagem. A tua?