uma casa para Bartleby#2


[Normandia, Agosto 2011, Pedro Neves]


Hegel concede à arquitectura o primado entre as artes liberais. Não por acaso atribui à imediata função da arquitectura simbolizar-se a si mesma – pirâmide, túmulo -, como que designasse a ordem, a proporção, a harmonia clássicas, a essência da própria arquitectura, em que as formas seriam modeladas pelas essências fixas da sua função. Para tal seria necessária a ponderação e a cautela pelo uso da razão e das suas regras na especulação arquitectónica como, de resto, em toda a elaboração humana.
Mas a especulação é já um excesso da razão. Porque não é fixa, nem estável, como o pressuposto clássico, a arquitectura romântica explode em simbolismo, o uso exacerbado do decorativismo e do detalhe. O controlo do excesso, a teleologia da própria arquitectura segundo Hegel, torna-se antes uma teleologia da auto-aparência, numa expressão das contingências do próprio projecto, da realidade. Auto-referente, a arquitectura tornar-se estéril quando refém da dominância da função; em lugar de abertura, há encerramento. E violência.











[Normandia, Agosto 2011, Pedro Neves]



Inacção que não se confunde com inércia.
As palavras sobre palavras sem qualquer vestígio do real que não a realidade do marketing urbano – vago, vazio, irreal e absurdamente concreto – que exigem à arquitectura recuo e defesa. A inacção pode ser a recusa civilizada em alimentar a cadeia humana da conquista agressiva dos limites do outro. Ou talvez uma desesperada última tentativa em defesa de um limite, de um corpo, de uma casa, de um território, de uma cultura.
É quando a linguagem é encarcerada na mais pobre das suas funções, a comunicação, que ela se torna violência. E tem início a destruição do real e, por extensão, da arquitectura.
Ah Bartleby! Ah Humanity!