[Rua Evaristo da Veiga, Cinelândia, Rio de Janeiro] O hibridismo é simplesmente um meio de experiência, que desfamiliariza, e que, assim, se aproxima da experiência do viajante. É só uma simulacro que tenta comunicar a experiência. Mas atenção, só faz sentido alguém reconhecer-se como viajante pressupondo-se habitante de outro lugar, nesse sentido justificando-se a imagem de uma ancoragem que é algum lugar de afecto. O viajante experimenta habitabilidades - foi assim que entendi a tua ideia de "reinvenção do sujeito num espaço outro". Acho que é apenas uma reinvençao provisória, consciente do seu regresso, no caso do viajante. André Barata Nascimento, Facebook A tentativa, falhada porventura – prosápia, cunho desta casa – era distinguir entre o viajante e o habitante, fazendo essa distinção dentro da condição que, faço da minha experiência as minhas palavras, se está a declarar a experiência decisiva desta época: a mobilidade. Pensar, dentro da mibilidade, o que distingue um viajante – outrora um turista – de um habitante, dentro das possibilidades que os meios de descolação e comunicação hediornos nos oferecem. É, então, uma questão de identidade, de lugar e, depois, de política. Um pensamento sobre a identidade jamais ocorrerá sem um pensamento do lugar. Esse era, e é, o tema do exílio e do exilado. Um lugar fora do lugar, um lugar do passado para onde toda a realidade do presente se remete. Mas e viagem e exílio assumirão hoje diferentes contornos. A necessidade do ir, voluntária ou involuntária, dependente ou não das contingências das economias globais – ainda no plural – só se configurará num lugar se esse deslocamento se revelar numa decisão de participação e inclusão na realidade do presente sem a remissão a fronteiras antigas. O habitar contemporâneo exige a abertura aos lugares remotos atravessados pelo habitante. Exige a legitimação do presente, sem nostalgia, através desse gesto singular e subjectivo do atravessar. Do redesenhar da fronteira e do limite. A ansiedade que me impõe o hibridismo decorre tão só dessa significação da desfamiliarização. O que se impõe ao habitante é o desejo de habitar os lugares que cruza e esse cruzamento ser constitutivo daquilo que é. Como reactualização permanente do ser diante do espectáculo do mundo. Ao invés, podemos tornar-nos híbridos mesmo permanecendo estáticos diante da tela da televisão. Ao habitar exige-se o corpo e o movimento deste sobre o planeta, no cruzamento, no choque, com todos os limites e todos os corpos. Ao viajante bastar-lhe-á uma ligação de banda larga. Ou a identidade que se constrói na experiência, no desejo de experiência, de todos os lugares do mundo, no mundo tornado o lugar do habitar porque agora o corpo se movimenta sobre todo o globo, ou aquele que caminha sobre as infinitas passadeiras rolantes dos aeroportos das cidades todas iguais, em atmosfera controlada. Ich bin unterwegs mit meiner unsichtbaren Eismaschine mit meinem unsichtbaren offenen Kamin Sie sitzen neben mir im Flugzeug Sie liegen neben mir in meinem "King-Size" Hotel Bett Sie zaehlen nicht als "Excess luggage" Sie brauchen keinen "Wake-up-call" Von A nach B der Liebe wegen Von A nach B der Liebe wegen Von A nach B der Liebe wegen Von A nach B der Liebe wegen wegen der Liebe! [I'm on the way with my invisible ice machine with my invisible open fireplace they sit next to me in the airplane they lie beside me in my king-sized hotel bed they don't count as excess luggage they don't need a wake-up call From A to B because of love From A to B because of love From A to B because of love From A to B because of love Because of love!] [Perpetuum Mobile, Einstürzende Neubauten, 2004] |
perpetuum mobile
- | João Amaro Correia / 3.6.11
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