mapas da real


A primeira vez que eu vi este mapa, que tem os tamanhos reais dos países e não os tamanhos do projeto colonial europeu, eu entendi tudo. De vez em quando revejo para lembrar por que as coisas estão como estão. Nenhuma mentira dura para sempre.

Nayse Lopez, Facebook




Obrigado, Nayse, por postares este mapa. Não o conhecia, nunca o tinha visto, e parei uns minutos a olhar para ele. Voltei várias outras vezes. Sempre sem saber bem o que pensar. Talvez não exactamente pelas mesmas razões que te levaram a publicá-lo, mesmo não sabendo eu exactamente as razões por que o publicaste. Talvez contaminado por algum ressentimento que o teu comentário ecoa.
Por mim, já dei para o peditório do complexo do homem branco. Aliás, o mesmo complexo, (no limite do politicamente correcto), que deixa muitas vezes a Europa paralisada. E a Europa está envelhecida, enfraquecida, paralisada. Muito, também, por não saber olhar para este mapa. Sobre os crimes e desmandos da história, do meu país não os assumo como meus, como disse, o complexo do homem branco não é o meu. Tal como acho inaceitável culpar os alemães contemporâneos pela insanidade que varreu a Alemanha na primeira metade do séc. xx. Sobre os crimes da história os que me doem mais, os que me implicam, são os da igreja a que pertenço – e na maior parte das vezes é até muito difícil destrinçar na história quais os da política e os da religião: viva a modernidade e a separação, é melhor para todos.
Mas é bom olhar para este mapa. Quem sabe um ideal? Todas as comunidades, todos os homens, iguais perante a ‘realidade’, iguais no mundo.
O problema são as formas, dissimuladas, do neo-colonialismo. Se o mundo colonial se deslocava lento, com consequências remotas para muitas das vidas da(s) época(s), hoje, qualquer movimento, qualquer acção, norte sul este oeste, é imediatamente sentida nos milhões de vidas dos iguais a nós que habitamos o planeta. Como a teoria do caos.
Como escrevi no meu blog, a propósito de arquitectura(s), o neo-colonialismo é a produção ideológica de imagens sobre o outro que o outro aceita como as dele, constituindo e construindo a sua identidade sobre essas imagens em que eu, que produzo essas imagens, digo ao outro, que as deseja e aceita acriticamente, o que ele é. É o que temos visto na arquitectura, quando a falência da Europa manda os arquitectos – falo das starchitects, não de um pobre diabo como eu que não aceita esta lógica e sobre quem esta lógica o obriga à ‘mobilidade’ – ao resto do mundo, ao resto do mundo onde se concentram as maiores reservas de capital. Mas, a par disso, temos visto essas zonas do mundo, sedentas de protagonismo, desejosas de viver (pensar e habitar) segundo os padrões que são, sejamos honestos, devedores da tradição, usos e costumes, europeus. Ou talvez não, mais norte-americanos, mais televisivos, mais espectaculares, aliás, meramente espectaculares. E o que vemos é a produção de ícones urbanos, despidos de arquitectura e vestidos dessa espectacularidade que nos deslumbra a todos, que nos engana a todos, mas só até ao momento em que o próximo ícone-evento seja erguido na cidade ao lado – porque todas as cidades, na lógica do mundo chato, são todas iguais e ao lado umas das outras. Portanto, a responsabilidade, no momento, está nas nossas mãos. Norte sul este oeste: contrariar, não aceitar esta lógica que padroniza comportamentos e atitudes, gostos e, sobretudo, consumos. Ser, apenas, consumidor, é aceitar passivamente este caos muito bem organizado pela racionalidade financeira. (Já nem sequer económica.)
O colonialismo foi-se, o pós-colonialismo foi um ar que deu aos académicos – optimista, é certo – o neo-colonialismo está aí: organiza, desorganiza, todas as vidas de todos os habitantes do planeta. Somos todos responsáveis.
Obrigado, mais uma vez, por me mostrares este mapa. Voltarei a ele.



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