cadernos do subterrâneo


Zezão


A experiência urbana, como experiência cultural, não sobrevive apenas pelos monumentos que se vão erguendo e que pontuam o território físico e simbólico da cidade. A memória, o registo dessa experiência, prolonga-se através da relação íntima do cidadão com o lugar que este ocupa, quer na comunidade, polis, quer na cidade, urb.
O grafiti como expressão comunitária do diálogo do cidadão com a cidade, desdobra-se tanto em elemento de linguagem, de comunicação, quanto de debate com os elementos físicos e culturais constitutivos da cidade.
A atribuição ao espanto diante do fenómeno da vida e da morte a origem da arte, pelas pinturas rupestres em cavernas resguardadas dos humanos e acessíveis aos espíritos, e o vínculo à cidade por parte do cidadão através da apropriação do espaço, são traços do trabalho de Zezão.
A São Paulo subterrânea ou das ruínas, das galerias de esgotos e drenagens vedadas ao quotidiano, da decrepitude das infra-estrutura. Sem que seja labirinto de batalha ideológico ou frívola estetização da ruína e da obsolescência, apenas a feerie urbana.
Uma outra vida das coisas, um outro território de nomes e sombras.