linha vermelha


Linha Vermelha

A cidade, o corpo, nos músculos, nas artérias, nos bairros, no sangue, no latejar da veia prestes a rebentar. É contraditória a sobreposição de cidades no mesmo lugar. A cidade natural rasgada pela espinha da cidade artificial [Christopher Alexander]. E se a cidade orgânica, se vai justapondo e construindo pela medida do tempo da urgência, a via inventada para trafegabilidade, acessibilidade, abre a carne de onde explode o sangue.
A intensidade da luz crepuscular azul vermelho laranja amarelo verde fluorescente, pontos, fragmentos, mosaicos improvisados tijolos adaptados desmaiados que se estendem pelo território linear da auto-estrada. Non-Lieux, trágica ironia: a via como lugar de terror de violência do medo da morte?

A cidade natural que come a cidade artificial que expele a carne. Vive dela, vomita-a. A cidade artificial que se socorre da velocidade, dos olhos fechados irracionais, para fugir do pânico e da natureza humana onde cresce. O veloz movimento com que a cidade artificial se escapa pela via é arrebatado pela velocidade com que a cidade natural explode implode cresce desloca territorializa desterritorializa sem cessar. O projecto contra o não-projecto. [Descartes contra Deleuze contra o corpo.] O tempo fixo no desenho contra a invenção i-desenhável que se desdobra pelo tempo e necessidade. Le Corbusier é um cadáver às mãos dos traficantes sem outro prazer que o do instante e do sangue.

Há uma luta dura que tudo faz exceder sem nunca nada fazer sobrar. Tão severa como uma memória nova que se não quer transportar.