working through


Pedro Cabrita Reis


Sem cinismo, poderá a autobiografia resultar de uma solicitação de identidade? Decorre a identidade da memória?, da memória, sinuosa, entre socos no estômago e beijos em dias azuis, da memória, condição histórica? É a memória que situa o indivíduo dentro da realidade?, nem que por paradoxo psicótico? E a partir daí a capacidade de situação e identificação do indivíduo? Capacidade de se dizer por nomes?
Recorrer às casas e às cidades, para erguer uma autobiografia, poderá ser um exercício arriscado, por inscrever, fixar, definitivamente – à medida da finitude de todas as coisas – fugazes instantes, tijolo a tijolo, que constroem uma memória e uma realidade dos lugares, não tanto uma micro-história do narrador. Mas na medida em que nelas se inscreve, fixa, um corpo próprio – na medida da impossibilidade da fixação de um corpo sempre em movimento – das casas e das cidades releva essa técnica da construção da realidade. Mais até do que dos lugares.