Até pode ser uma ilustração do que divide o Novo do Velho Mundo: Roger O. Thornhill, ignorante quanto ao que consigo se sucede, toma, resoluto, a decisão de nesse momento não ser mais objecto dos caprichos do real, mas ser ele o fazedor do real; Aida Zepponi, sem o saber, perdida, aflita por satisfazer uma necessidade básica, puro instinto da sobrevivência, numa estrada secundária a caminho de Parma.
Cabe em Cary Grant, numa encruzilhada da Garces Highway, no espaço rarefeito, desprovido de símbolos e significados, mergulhar no great wide open que a nós, europeus antigos e sem acesso a um espaço novo, imersos em paisagens carregada de memória e significados, incapazes de um movimento espontâneo ou resoluto, está vedado.
E aflição da Claudia Cardinale que me recorda aquela frase do Manuel Vicente: «o campo é um sítio onde eu paro para mijar entre duas cidades».
Não quero ser peremptório para poder dizer que a única possibilidade da construção do sentido, ou do real, ou de organização nova das coisas, se poderá empreender apenas em espaço vazio. Muito pelo contrário, até. E até porque o resultado de tabula rasa é manifesta e tragicamente conhecido.