saecula seculorum


[El Cielo Gira, Mercedes Álvarez, 2004]


Cega, a acção da memória pela mão, antecipa a visão das coisas mediadas pelo desenho. Um contorno, um rasto na página, um risco pista, um imagem ainda e já ruína. Uma da inscrição, uma entidade difusa, uma identidade vinculada às oscilações do tempo. E do espaço.
«E porque ficamos com tantas memórias?» Ruínas físicas numa paisagem que se eleva sobre as cidades que se escondem. Submersas, debaixo da terra e das memórias também já elididas, apenas reminiscências escavadas ao ritmo lento das estações.
Um sopro: lembrarmo-nos de qualquer coisa é lembrarmo-nos de nós mesmos? O curso da história, a memória com relação ao passado e como possibilidade de conduzir a lembrança. Pensar, filmar, a ruína como um tropismo da memória. Quando o mundo, as coisas, no seu definhar lento, subsistem pela memória que também definhará logo após a liquidação da lembrança. Morrer. Morrer duas vezes. Morrer várias vezes até a lembrança se extinguir na Terra. Um outro encontro do lugar das coisas com o tempo.
A passagem, a aparição mnemónica da lembrança, no instante de uma vida logo perecerá. Sobrarão as casas, lentas, e elas soçobrarão ao abandono. O intervalo, o entre, ainda não a representação de uma coisa ausente, mas a imagem como lembrança. Que se sucedem umas às outras.




Até que «de repente, uma noite, as igrejas ruíram todas juntas».
É esta a memória, imprevisível, das ruínas da tua passagem.