o elogio da sombra


[Kowloon Walled City, Hong Kong]

Esta penumbra é lenta e não dói
Jorge Luís Borges


Caminhamos e circulamos não cessamos de voltar: o risco da contemplação onde arquitectura e espaço tendem a tornar-se sinónimos é um alargamento excessivo da ideia de arquitectura até nos dissolvermos numa coreografia extensa, ao ponto de acabarmos por perceber a arquitectura em tudo; o risco de fazer transbordar a arquitectura de um conceito até se chegar à ideia totalizante, apesar de sedutora, da arquitectura como uma tecnologia do ser. Um muro instaura um espaço, um chão e um tecto e a luz a perscrutar organizam a arquitectura. E a luz e os homens encarregar-se-ão de inventar uma arquitectura sem arquitectos e cidades confundidas com o próprio espaço que ocupam.
Então o tempo tomará as pedras pela mão: imperfeitas, impermanentes, incompletas.


adenda: a Nancy dormiu em Chungking Mansions.