aumentar
Sobre a irrelevância disciplinar destas palavras, não se oferece dizer muito para além disto mesmo: irrelevantes. Talvez até, e relevante para o discurso arquitectónico, seja o facto destas palavras – que relevam de uma mais ampla narrativa da pseudo-sustentabilidade – serem mergulhadas numa inconsciente ideologia de ilusão capitalista que, zeitgeist de abertura de século, patrocina o ambientalismo e a sustentabilidade e a ecologia como bem consumível, e em que a arquitectura a-crítica (se há arquitectura a-crítica?) torna signo ou logótipo em si mesma, como vertiginosa proposta de consumo voraz. Uma utopia depois da utopia. [cf. Fredric Jameson] Será uma questão de moda, ou de alívio das más consciências – ocidentais - mas talvez fosse importante os arquitectos, a arquitectura, reservar alguma distância à tralha mediática que se derrama de ecran em ecran. Provavelmente isto que digo será “conservador”, pouco empenhado num utópico imparável progresso científico que, de momento, assume a condição de redimir o planeta dos excessos humanos. Anti-moderno? Sim, e considerarmos o moderno um projecto de crença radical e optimista no homem e nas suas finitas capacidades de representar o mundo em tecnologia, e se considerarmos a modernidade como território último e único da possibilidade do pensável.
Não sendo, portanto, um problema disciplinar, embora se sirva da arquitectura para se expor, este discurso é político. Apenas traduzido em arquitectura por arquitectos ou cínicos ou distantes de qualquer preocupação decisivamente arquitectónica e, por consequência, com o habitar e, evidentemente, com o lugar, que até se poderá chamar Terra. E no centro da política está a polis.
O que é aterrador verificar neste texto é a completa falência da política: Parece ser essa a opinião do presidente da câmara municipal da cidade do Lis, Raul Castro (PS), para quem "o que está em cima da mesa é a opção entre deixar morrer ou dar vida ao centro da cidade". Para além de uma infantil sociologia das cidades e do comércio, comércio tradicional vs. grandes superfícies, lançar o ónus da responsabilidade política para as mãos de empreendedores – ia dizer predadores – privados é abdicar da manutenção da coisa pública e do bem comum. O que, num discurso (aparentemente) liberal, que poderá fazer algum sentido como crença na mão invisível do mercado na administração e decisão do que é o bem comum, revela-se um paradoxo porque, na sua essência, o discurso liberal é, justamente a articulação do bem comum com os interesses individuais, conflituosos, de modo a que estes não sejam geradores de violência social e cada indivíduo possa prosseguir com a sua vida como bem entenda. Temos portanto o abdicar e soçobrar da política diante da sua própria falência e da falência do regime que este tipo de políticas foi construindo, e diante da força de interesses particulares, pouco interessados noutro fim que o lucro, mas que, ainda assim e para dissimularem os seus propósitos se encobrem com uma diáfana narrativa ecológica. Verde, como a relva postiça das coberturas prometidas, irresponsável, como o discurso político sustentado na ignorância. «e o ajardinamento das fachadas? patrick blanc no pinhal, a 600 euros/m2 (em manutenção é melhor não pensar - em madrid já tiveram de refazer 2 vezes), mas aposto que fornecido por aquela empresa manhosa do porto. leiria vai ficar moderna!» E um olhar o exemplo de Leiria é percorrer todos os indicadores da irresponsabilidade política e urbanística das últimas décadas. Estádio de futebol ou centros comerciais, sempre a tentação da grandiosidade irreal, estéril à vida de cada um, perniciosa e funesta para o bem comum e destruidora da cidade.
Construir a cidade como ruína da democracia liberal, a cidade refém dos movimentos particulares que se movem sem a razão do interesse público é a morte do espaço público, da democracia e da liberdade. Os impreparados e incultos autarcas que vamos elegendo representam-nos na perfeição na nossa falha narcísica colectiva. São tempos difícies, estes, para um liberal em Portugal.