cool down*


[I'ts time for green banking, Sean Connery promove Crédit Agricole, 2010]


Argumentar que o ambientalismo seja a primeira preocupação da relação de cada um com o outro não será uma via errada para compreender no desenho da arquitectura muitas das preocupações essenciais que ocupam o pensamento contemporâneo. Uma aposta moral, evidentemente. E que muitas das vezes não esconderá algum oportunismo que um certo zeitgeist – mediático, científico, cultural, político – alimenta para, em sentido inverso, legitimar o próprio desenho e a arquitectura a partir dessa disposição proposta pelo ar dos tempos. Mas não serei cínico e vou admitir, fugindo de um reaccionarismo à Watkin, que há, de facto, justas tentativas de pensar a arquitectura, em contextos de terras da abundância, sem recorrer ao aparato pirotécnico de que a prática teórica e a teoria prática está eivada.E confesso agora que por momentos, um parêntesis neste final de parágrafo, recorrendo ao esforço da memória para rememorar alguns exemplos de arquitecturas excluídos desse cinismo, e confesso que me encontro sempre diante da resposta de Souto Moura: «Agora apareceu esta coisa da sustentabilidade… Acho pretensioso dizer-se que um edifício é sustentável… Acho que é o mínimo que se pede…» - perdoando o inusitado uso das reticências que o transcritor da entrevista terá atribuído ao discurso de Souto Moura.
Estando, portanto, do lado dos que pensam a arquitectura como propósito de entendimento cultural do mundo, contar com a razão prática do mundo, admitamos Kant, é um imperativo categórico de qualquer projecto de arquitectura. Naturalmente a sustentabilidade viável da massa humana à superfície do planeta que lhe concede os recursos à viabilidade é, sempre, um dos preceitos de um bom projecto de arquitectura. Teorizar sobre a inteligência dos edifícios, tendencialmente a partir de aparatos tecnológicos ainda mais dispendiosos aos recursos, é admitir a demissão da arquitectura da adequação justa às contingências da construção, afirmá-la como pueril no seu narcísico jogo de formas mais ou menos acrobáticas e erguer o techno-ambientalismo como categoria estética primeira.
A ameaça quase totalitária desses discursos exaltados, e ilustrados por renders de edifícios cobertos com «relva (ou lá o que era)», arbustos, verdete, ou qualquer outro foguetório sintético esverdeado, que reproduzam em si a natureza artificial fantasiada do território em que intervêm, é ser exactamente uma intervenção antiética da própria acção da arquitectura e do construir a arquitectura. Se pensarmos que a arquitectura é um desejo de trazer à visibilidade aquilo que aos olhos humanos ainda o não é. E que a prossecução desse desejo é também uma forma de violência sobre a Terra e a cultura. E sugere-me isto, estas declarações de Glenn Howells e do seu idílio plastificado: «Designed to "knit" into the landscape so that even the petrol station cannot be seen from the road.». Como um pequeno alívio da consciência burguesa - ocidental? - face a essa violência que a arquitectura – a civilização – implica. Por natureza. E por natureza, recusando subscrever um discurso elementar, uma espécie de aristotelismo simplório, que proponha o belo como o que é justo, deverá a arquitectura no seu pensar-se, isto é, sobretudo, no instante do projecto, compreender a sua natureza paradoxal de ser uma construção que compreende também destruição. E sobre este esforço crítico da arquitectura e a agitação indecisa em que esta se encontra - entre um optimismo ilusório e um pessimismo anémico, ou um progressismo fictício e um reaccionarismo ruinoso e fingido, ou a imbecilidade sofisticada e o medo arcaico - , Lebbeus Woods, a partir das fotomontagens de Daniel Meridor, propõe a clareza de um compromisso que é o compromisso que radica precisamente na origem da arquitectura: «The mission of architecture, these designs suggest, cannot dispense with the aesthetic, for it is inseparable from the ethical, the way we choose to with live with all other things.».

Mas outra direcção me suscita este comentário. Os ciclos e as modas, e o pensar do lugar de Augé, vencido – na verdade nunca convenceu - , agora, quase duas décadas depois. Justamente, a estação de serviço, como os aeroportos, as grandes superfícies comerciais, a velocidade, os intervalos da vida, o entre, o parêntesis do anonimato nestes lugares, a suspensão do indivíduo na «surmodernité» do espaço flutuante e no excesso das sociedades ocidentais. Agora ao arquitecto solicitam-se bombas de gasolina como «a rural oasis». Provavelmente, outro modo do «non-lieux».


*Cool It: The Skeptical Environmentalist's Guide to Global Warming, Bjørn Lomborg, 2007