como numa cidade já não sabiam para onde ir.*


[Los Angeles, Andreas Gursky, 1988]


Se isto é uma crítica ou a crítica da razão cínica à era em que entrámos? Uma cidade sem fim? O tempo todo igual sob os escombros da cidade-fachada contínua? Errância indeterminada? Eternos viajantes desdobrados nas sombras e nos reflexos do vidro polido e vertical dos arranha-céus da representação social? Dissolução do individual dentro da construção e da arquitectura toda igual?
Já nos não serve o espaço euclidiano. A sua infinitude horizontal, o seu recorte no horizonte, é no espaço. O mundo plano expande-se pelo globo e a sua determinação é a do tempo. O espaço do corpo desagrega-se no instantâneo encadeado da paisagem electrónica. Os espaço é transitório e instável.
E Gursky revela as luzes da superfície, as luminárias da desorientação. Porque é na infra-estrutura, na cablagem encadeada e infinda, que as cidades se ligam e apressam a vertigem do tempo do humano. Enquanto se esquece a catástrofe iminente.


*Clarice Lispector