a obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica





Hoje entrevistamos João Amaro Correia, aka @joaoamarocorreia, lisboeta, arquitecto e fotografo compulsivo.

O objecto arquitectónico aparece no seu feed, não escondendo a sua formação profissional, mas o João gosta, sobretudo, de fotografar pessoas, pois é nelas que considera estar a essência de tudo.

As suas imagens são fortes e carregadas de emoção, um pouco desconcertantes e inquietantes. Não deixando, por isso, o espectador indiferente.

O feed do João, é sem dúvida um feed que vale a pena conhecer.



1) Como conheceste o Instagram?

Na web, pouco depois do seu aparecimento.


2) Quando começaste a tua conta? Publicaste a tua primeira foto assim que abriste a conta?

Abri a conta em finais de 2011. Presumo que tenha publicado imediatamente uma imagem.


3) Usas alguma app de edição? Quais as tuas favoritas?

PhotoShop, quando publico imagens em preto e branco. A cores, tendo não usar ‘filtros’.


4) Quais os temas que mais gostas de fotografar?

Pessoas. É nelas que está tudo. O pedaço mais verdadeiro da Verdade.


5) Que tipo de aparelho usas para fazer as fotos que publicas no Instagram?

iPhone 4.


6) O que pensas da fotografia móvel?

Um modo de registo do quotidiano. Poder-se-á inscrever a fotografia móvel na mesma genealogia da polaroid e das câmaras descartáveis da era pré-digital. Um modo rápido, barato, eficaz, de ir registando momentos de alguma maior espontaneidade e intimidade que, por definição, estão mais afastados da fotografia profissional.

Sou relutante em falar de Fotografia quando se fala em Instagram. Sem prejuízo de se encontrarem, cada vez mais, e com cada vez mais qualidade, fotografias, de facto, o Instagram é uma máquina gigante de produção e deificação da banalidade. Uma espécie de utopia (distopia) warholiana em que cada um de nós é produtor dos seus 15 avos de segundo de fama. E um fenomenal arquivo para memória futura. Os antropólogos de uns séculos à frente terão aqui um incomensurável fio de Ariadne para seguirem as pistas do início do século XXI.

A fotografia é outra coisa. Exige um pensamento e é a construção de um pensamento. É um olhar mais profundo e complexo sobre o real.


7) Fala um pouco sobre a tua paixão por fotografia.

Não tenho paixão pela fotografia. Não nasci nem alimento o «bichinho» da fotografia. Sempre tirei, de forma absolutamente casual, fotografias, como qualquer pessoa. Mas nunca fiz da fotografia sequer ‘passa-tempo’. Sucedeu ter adquirido um iPhone e, claro, ter instalado o Instagram. De início era a óbvia e, de certa forma, ingenuidade e encantamento com os efeitos dos filtros. E esse foi, penso, o grande truque do sucesso do Instagram. De repente, qualquer banalidade – um pé, uma unha, um sushi, um gatinho – adquiriu glamour e seduziu pela simulação de um imagiário que os filtros oferecem a la carte.

Lembro que de início achava muito interessante o contacto com o quotidiano de lugares e cidades distantes, de todo o mundo, por perspectivas que escapam ao crivo dos media. Uma espécie de omnipresença global, instantâneo, por todas as partes do mundo.

Por defeito de formação fotografava arquitecturas, objectos que achava interessantes. Mas sempre na lógica do «acontecimento», do «evento» – que é a lógica Instagram, tornar tudo, qualquer ínfima parte do dia-a-dia, num «evento» de ressonâncias globais. Por uma qualquer razão tentei encontrar coragem para fotografar pessoas. É o que tenho feito mais. E o que mais me tem interessado.

Não tenho técnica alguma e desconheço por completo os meandros dos equipamentos e das câmaras e as técnicas.


8) Tens algumas referencias na fotografia? Onde procuras informação para fazer as tuas fotos?

Para além de amigos fotógrafos profissionais, com quem, de quando em vez, falo de fotografia, sou muito ignorante do métier. Não tenho referências para além dos óbvios nomes. No entanto, há um livro e um fotógrafo que sempre me surge com uma força impressionante. O The Americans, do Robert Frank. Também o livro Lisboa: Cidade Alegre e Triste, do Victor Palla com o Costa Martins, me é uma referência importante.


9) Há 2 elementos que aparecem varias vezes em situações de luz diferente. Um prédio, e o tecto de uma igreja. O que são, e qual o motivo para os fotografar?

Confesso que desconheço o motivo. O prédio é no Jardim do Príncipe Real, e todos os dias lá tomo café em frente. Achei graça ao facto de se (quase) poder representar em fotografia a abstracção de um desenho de alçado arquitectónico. O tecto da Capela do Rato, não terá outro sentido que pontuar a semana das imagens, como o Domingo ritma os dias da semana, creio.


10) No inicio da conta, fotografava essencialmente arquitetura mas hoje o elemento humano predomina no seu trabalho. Há alguma intenção nessa mudança ou foi apenas um evoluir da sua linguagem fotográfica?

Não há intenção nenhuma. É apenas isso: um caminho. Em última instância, estamos apenas a falar disso: caminhos.

Obrigado João, pela disponibilidade em responder às nossas perguntas, e por partilhares connosco o teu olhar.


Via Instagramers Portugal.