Je suis un éphémère et point trop mécontent citoyen d'une métropole crue moderne parce que tout goût connu a été éludé dans les ameublements et l'extérieur des maisons aussi bien que dans le plan de la ville.


[Graph Architecture, Saul Steinberg, 1954]


Se Saul Steinberg se define como escritor usando técnicas do desenho, com mais certeza o devemos tomar como crítico de arquitectura.
O traço central da sua obra é a modernidade. Uma linha crua, directa, incisiva, objectiva. E é a objectividade, a ética moderna, que impregna toda a extensão do seu olhar, seja a representar o julgamento de Nuremberga ou a batalha do Monte Cassino, ou os apontamentos do quotidiano nova-iorquino. Uma objectividade surpreendente, para quem com a sua condição - judeu, romeno, estudante na Milão fascista, em rota para os Estados Unidos, (com breve passagem por Lisboa sendo aí obrigado pelas autoridades portuguesas a regressar a Itália) – é capaz de se distanciar e ter a mesma atitude analítica perante os tempos mais sombrios da civilização ou a dança dos pássaros em Belém do Pará, ou a história da arquitectura.
Se a modernidade é a sua ética, o modernismo é o seu objecto de crítica. A cultura de massas, o consumismo, são matérias do seu desenho, como um pop avant la lettre, antecipando, na década de 50, críticas e propostas como as posteriores de Venturi.
Mais que cidades mentais, as cidades de Steinberg são cidades no papel, irónicas, críticas, essencialmente modernas, nas quais, no meio do riso gentil e sofisticado, se entrevêem os indivíduos solitários no meio do mundo moderno.
Não por acaso, há uma página do diário perdido de Rimbaud. Uma página descoberta por Steinberg, escrita por Steinberg., uma página que se subleva contra os filistinos da Madison Avenue, mais importados com o ‘o osso relíquia do santo do que com a sua obra, com botão do punho de Rimbaud’ que com a poesia de quem declarou que il faut être absolument moderne.









[Document Rimbaud, Saul Steinberg, 1953]






[Prédio na Downtown, Saul Steinberg, 1952]



[Cornijas, Saul Steinberg, 1952]