Não são tanto as respostas, até porque é uma entrevista de escassíssimo interesse arquitectónico, mas mais as perguntas. Não é a arquitectura, é a sociologia [de pacotilha] e são as condições em que se pratica a arquitectura em Portugal. Talvez mesmo mais longe que Lisboa e a comezinha burguesia de extracção Frágil-anos-oitenta, a caixa de comentários da entrevista exiba as condições e a precariedade com que, um a um, caem os jovens iludidos da arquitectura. Existirão razões mais fundas para o que sucede. Razões endógenas à prática moderna da disciplina e ao ensino da arquitectura: a erosão do conceito do belo e da estrutura estética da arquitectura, contrariamente ao que as mundanas e poderosas imagens nos fazem crer; o credo num funcionalismo e mecanicismo absoluto, ainda que dirimido nessas mesmas imagens de atracção libidinosa; a obrigatoriedade imposta ao arquitecto da invenção do novo e do deslumbramento do original que nada terá a ver com as origens. E admita-se que, depois de cinco anos de mergulho na ilusão niilista, um jovem-arquitecto, (a recibos verdes e subsídio do IEFP, concertado pela entidade empreadora), resulte num indivíduo em que a frustração e o ego ferido sejam as características mais evidentes. Ressentidos de todo o mundo, uni-vos pelas caixas de comentários públicas. As falácias em que foram instruídos tombam, uma a uma, com a «crise». Claro que Aires Mateus não é Aires Mateus. É Carrilho da Graça (perdoem-me a maldade, o Darth Vader do eixo socio-arquitectónico Lisboa-Cascais?), é Koolhaas, é Zaha Hadid, são as centenas de ateliers, como gostam de nomear os compartimentos de trabalho onde espalham os novos amanuenses da arquitectura, que propagam a monotonia, o tédio, o horror arquitectónico e a tragédia urbana. É mais uma condição do que chamam globalização e que a nossa impante realidade ridícula também chama de Estado Social e, às vezes, em arrogância comprometida, arte. O deslumbramento, a construção e o culto do arquitecto como figura do sucesso (de ressonância, perdão, cavaquista), eleva-se no coreto da nossa paróquia. E esquecemo-nos da arquitectura. De nós mesmos. E do outro. [Pede-se perdão pelas falhas técnicas de comunicação: uma greve geral aí, algumas, poucas, caipirinhas aqui, demasiado sangue derramado no chão da cidade em barbárie do narcotráfico, a vida como ela é, caros arquitectos de blog.] Para o Daniel e para o Pedro. este samba vai para Dorival Cayme, João Gilberto e Caetano Veloso e para todos os grevistas anti-socialistas, |
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- | João Amaro Correia / 24.11.10
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