south american caffee


[Cidade, Rio de Janeiro]

A Europa é feita de cafetarias, de cafés. Estes vão da cafetaria preferida de Pessoa, em Lisboa, aos cafés de Odessa frequentados pelos gangsters de Isaac Babel. Vão dos cafés de Copenhaga, onde Kierkegaard passava nos seus passeios concentrados, aos balcões de Palermo. […] Desenhe-se o mapa das cafetarias e obter-se-á um dos marcadores essenciais da ‘ideia de Europa.

George Steiner, A Ideia de Europa


É a cartografia da perplexidade que não se encontra na Cidade. O café, ainda antes do encontro marcado, o espaço e o tempo fora do mundo da rua – ainda que nas esplanadas de Paris ou na Pç. das Flores em Lisboa – arredado do movimento fundamental, em frente, das calçadas desajeitadas da Cidade. Pedra portuguesa arrancada ou toscamente executada, lajes de betão poroso partidas, outras refeitas, granito escuro duro perene talhado da idade jovem da política velha do país, não importa o desalinho do caminho, importa caminhar. Andar em frente imperativo da condição do fazer.
E se a hipótese de Steinar é viável, se foi no confronto sobre as mesas do café que cresceu a política a arte a filosofia, da vita contemplativa de Hannah Arendt aqui o salto é alto para a veloz e voraz vita activa imperativa. Fazer uma cidade, construir um país, erguer uma identidade, esforço exigente que permite um instante de descanso, um frugal alimento, em pé, no botequim, essa invenção do português que saiu, uma esquina trabalhada de um qualquer edifício. Ou então a pausa que resta do cotidiano duro e cansado.

E disto, talvez seja um excesso a aproximação ao que desconheço pelo contorno em negativo do que conheço.