inaparente*


[Primavera, Verão, Outono, Inverno... Primavera, Kim Ki-Duk, 2003]


Como encontrar sentido, depois, se nos dissermos que a porta, ainda que solta de muros, é para ser atravessada. É na inaparente visibilidade dos muros que a flanqueiam que o arquitecto – o homem – labora. Uma porta sem muros em volta não justifica que a não atravessemos. Um princípio de ordem, de organização mental – e ritual – do espaço. A liberdade é depois.


*Como as abelhas formam o mel, também nós buscamos o mais doce de tudo e construímo-Lo. Até com o muito pouco, com o inaparente (desde que venha do amor), começamos, com o trabalho e com o repouso depois, com um silêncio ou com uma pequena alegria solitária, com tudo o que fazemos, sozinhos, sem companheiros ou seguidores, começamo-Lo, a esse que não viveremos como os nosso antepassados puderam viver-nos a nós. E todavia esses desaparecidos de há muito estão em nós como tendência, como carga, como sangue que rumoreja e como gestos que vêm do fundo dos tempos.


[Cartas a Um Jovem Poeta, Rainer Maria Rilke]