este lugar não será mais o mesmo sem ti


[En Construccion, José Luis Guerin, 2001]


À arquitectura como corpo, ideia avançada pela História, reconhecer-se-á a necessidade da estruturação desse corpo. Cimento, ligamentos, películas, ossos, pilares, polietileno extrudido, organização das partes, aparência da beleza e ocultação do, genericamente, funcional – já um dia considerado o belo -, orgânica mecânica do erguer da arquitectura. Uma construção, uma disposição no tempo, uma vontade sobre a matéria-mundo.
Também uma cidade, como corpo, necessitará, porventura mais urgentemente, da disposição voluntária dos homens sobre a matéria. Ruas e casas, organizados na democracia do mercado segundo os critérios hediornos, urgentes, que, muitas das vezes, fazem subsistir a circunstância sobre a estrutura. Será do domínio da contingência a construção. O erguer das casas e organizá-las nas cidades.
A construção da arquitectura, um processo físico, um sistema de experiências mentais, que se prolonga no tempo e no lugar que antes da realidade prometida em projecto – a ilusão do arquitecto – provoca e desperta uma outra realidade. Porventura ainda caótica, desorganizada. Quase tão repelente quanto as entranhas do corpo a céu aberta, as entranhas de um edifício em construção. Apenas amadas por uns quantos, um mestre de obras feliz na resignação com que já se habituou a que o arquitecto lhe esconda o labor das mãos por paredes e revestimentos como a carne à volta da alma.
As metáforas talvez sejam infinitas, uma maneira imperfeita de dizer o que não se conseguirá, mas talvez como o cimento, uma fibra, José Luís Guarin filme as partes da sociedade, uma pequena sociedade, um bairro, as ligações e as disrupções, a vida, como, por metáfora, se constrói uma arquitectura. E de como ela é no meio das outras arquitecturas.