Sport Lisboa Nostalgia e Esperança














O meu Eusébio não era meu. Era do meu pai.
Nunca vi o Eusébio jogar, e toda a mitologia à volta do Pantera Negra me parecia um exagero saudosista, pois à época tinha à mão o Chalana, o Shéu, o Diamantino, o Veloso, o Bento, o Vítor Paneira, o João Pinto, o Rui Costa, duas finais europeias (perdidas) e muitas e consecutivas noites europeias de glória e de lágrimas - sim, já chorei pelo Benfica.
Mas o meu Eusébio não era meu. Era o do meu pai, da vez que veio do Brasil a Portugal visitar a família e se pôs a caminho de Lisboa para ver o Rei ao vivo no Estádio da Luz, contra o Leixões, salvo erro, e, por azar, o Rei estava lesionado. Com uma das muitas mazelas que o joelho sofreu.
O meu Eusébio não é meu. Provavelmente como muitos dos milhares de benfiquistas nascidos em 70 ou 80, é o Eusébio recebido das mãos dos pais. O Eusébio que aquecia algumas tardes de domingo, num país que nos dizem de apagada e vil tristeza. E o Eusébio não era um deus. Era ‘apenas’ um rapaz que expurgava por instantes a tristeza dessas casas. Não é a alegria sempre transitória?

Não é, com certeza, o futebol, a chama que o pai passa para o filho, no romance de Mccarthy. Mas pode muito bem o Eusébio ter sido uma faísca que nos aproximou um pouco mais uns dos outros.