Americanos não são americanos. São velhos homens humanos. Chegando, passando, atravessando.





[Nail Fetish, Relicário, Vik Muniz, 2011]




Um número cada vez menor de americanos possui objectos com pátina, móveis antigos, jarras e panelas dos avós – as coisas usadas, que trazem o calor do toque humano de várias gerações, que Rilke celebrou nas Elegias de Duíno como essenciais à paisagem humana. Em lugar disso, temos nossas fantasmagorias de papel, paisagens transistorizadas. Um museu portátil e peso-pena.


Fotos, que transformam o passado num objecto de consumo, são um atalho. Qualquer colecção de fotos é um exercício de montagem surrealista e a sinopse surrealista da história. Assim como Kurt Schwitters e, mais recentemente, Bruce Conner e Ed Kienholz criaram magníficos objectos, quadros vivos e ambientes a partir de refugo, nós agora construímos uma história a partir de nossos detritos. E uma certa virtude, de um tipo cívico adequado a uma sociedade democrática, está vinculada essa prática. O modernismo verdadeiro não é austeridade, mas uma plenitude de garagem bagunçada – a paródia internacional do magnânimo sonho de Whitman. Sob a influência dos fotógrafos e dos artistas pop, arquitectos como Robert Venturi seguem o ensinamento de Las Vegas e julgam a Times Square uma sucessora apropriada para a Piazza San Marco; e Reyner Banham louva a “arquitetura e a paisagem urbana instantâneas” de Los Angeles, em razão do seu dom para a liberdade, para uma vida boa, impossível em meio às belezas e às misérias da cidade européia – exaltando a liberação proporcionada por uma sociedade cuja consciência é construída, ad hoc, de sucata e refugo. Os Estados Unidos, este país surreal, estão repletos de objetos encontrados. Nosso refugo tornou-se arte. Nosso refugo tornou-se história.


[Sobre Fotografia, Susan Sontag, 1977]