ah merda, morri*

‘Queremos pensar na arte de ganhar dinheiro.’, disse ela. Estava sentada no banco de trás, o dele, a poltrona, ele olhava para ela e esperava.
‘Em grego isso tem um nome.’
Ele esperava.
‘Chrimatistikós’, disse ela. ‘Mas temos de dar à palavra uma certa margem. Adaptá-la à atual situação. Porque o dinheiro sofreu uma mudança. Toda a riqueza virou seu próprio objeto. Toda riqueza enorme agora é assim. O dinheiro perdeu sua qualidade narrativa, tal como aconteceu com a pintura antes. O dinheiro agora fala sozinho.’



‘Porque o tempo agora faz parte dos ativos da empresa. Ele pertence ao sistema do mercado. O presente é mais difícil de encontrar. Ele está sendo eliminado do mundo pra abrir lugar pró futuro dos mercados livres de qualquer controle e de imenso potencial de investimento. O futuro se torna insistente. É por isso que alguma coisa vai acontecer em breve, talvez hoje’, disse ela, dirigindo um olhar maroto para as próprias mãos. ‘Pra corrigir a aceleração do tempo. Trazer a natureza de volta ao normal, mais ou menos.’



Ah merda, morri.




[Cosmopolis, Don Delillo, 2003]



o rampant discrimination
mass poverty
third world debt
infectious disease
global inequality and deepening socio-economic divisions---
(it does in your brain)
we call upon the author to explain!


[We Call Upon the Author, NIck Cave & The Bad Seeds, 2008]