clean-modernista-brasileiro-redivivo#3


[Casa Mirindaba, StudioMK27 - Márcio Kogan]


Não terão, com certeza, qualquer relevância as atribuições da imprensa marketeira àquilo que a arquitectura vai produzindo. De equívocos está o mercado cheio. Koolhaas bem o sabe, melhor o faz, e propõe que a própria ideia de mercado, ou antes, a ideia de uma sociedade de fluxos mercantis, da economia à cultura, da finança à arte, seja a própria ideia da arquitectura. Não a ideologia, isso seria ser cínico, e Koolhaas não o é. Mas retomando, por exemplo, o trabalho de Márcio Kogan mais de perto, talvez ele tenha apreendido a lógica Koolhaas e a use na manipulação de um imaginário modernista que povoa a burguesia e alta burguesia paulista.
Se o resultado é a forma destituída de valor - pode-se dizer, semiótico, sem qualquer adesão a alguma leitura da realidade, se essa mesma realidade a achamos hoje informe, constituída de fluidez e do movimento que fragmenta o sujeito em acasos e derivas – ela, a forma, (e aqui uso forma decorrente de um discurso da arquitectura, que não é o da arte, com explicitou Matta-Clark), a forma de Márcio Kogan é herdeira directa da forma modernista brasileira, na sua aparência mas, justamente, destituída de qualquer qualidade intrínseca que a constituísse, como, digamos, o funcionalismo.
Talvez a minha confusão seja essa mesmo, a da leitura de um espaço liso, que anuncia o movimento fluido e informe, o nomadismo, no dizer deleuziano, sobreposto ao sedentarismo e a legibilidade da geometria dura da forma, o espaço estria. O que não deixa de ser uma forma de inteligência. Perante o cliente, o mercado, e os impasses que, paradoxalmente, transportamos nesta dita hiper-modernidade.