lugares arcaicos


[Crematório, Berlim, Axel Schultes, Charlotte Frank, 2001]

Provavelmente a impressão de uma realidade excessiva decorre do reconhecimento, inquietante, do espaço como globalização. Agora, aqui, à frente, ligo-me instantaneamente a qualquer parte, espaço, do mundo, sem na realidade a ele me ligar pelo corpo. O que experimentamos dos lugares é agora desconectado da sua espacialidade. A economia do espaço dissolve-se no aqui, no agora, na imaterialidade dos objectos e numa equívoca espacialidade global – globalizante – que soçobra às expectativas reais do corpo.
Se uma antropologia do espaço deverá compreender o corpo como categoria constitutiva do indivíduo – e houve uma que categorizou os não-lugares e a erosão da realidade pela velocidade e pela impossibilidade da atenção necessária aos objectos a partir dessa velocidade que seria um entre lugares - , muito mais a arquitectura terá necessariamente de ser erguida a partir dele.
Uma realidade ilusória – chamaram-lhe simulacro – toma conta do pensamento arquitectónico: um pensamento que se exime a pensar o espaço para além da utilidade prática – absolutista – da sua mensura: um pensamento em perda da experiência irracional, simbólica, deslocada e desafectada da própria experiência do lugar. Realidade excessiva, practicabilidade como imperativo, arquitectos inventamos espaços destituídos de sentido.
À assoberbada tentação da racionalidade poderá a arquitectura ser a tarefa, justa, do pensar holístico do lugar. No espaço.