Europa Caffe


A festa de Babette | Gabriel Axel | Dinamarca / 1987


Wherever the Catholic sun doth shine,
There’s always laughter and good red wine.
At least I’ve always found it so.
Benedicamus Domino!

Hilaire Belloc



Quis o destino que surgisse, por uma última vez, a oportunidade para Babette realizar-se na cozinha. Como artesã dedicada, era pelo seu ofício que a sua vida adquiria sentido. A cozinha como arte, síntese de uma cultura, de uma visão do mundo.
E é nesse último jantar que se revela, curiosamente, uma das fronteiras entre o Norte e o Sul.
O Norte, austero, puritano, pietista, kierkgaardiano, que separa o corpo da alma, esse Norte que representa o corpo como o Mal que arrastamos, condenados, na peregrinação até ao Paraíso; o corpo reprimido e reeducado para negação de todos os seus prazeres que mais não são que traços dessa perversidade original que fez o Homem desabar do Éden. O Norte, obcecado com o mal e com o que faz mal.
O Sul, papista, hedonista, que compreende o Homem como inteiro, sem fractura possível entre corpo e alma. Este Sul do Sol e do sal, do excesso e da imprudência, do corpo que se inscreve no espírito e do espírito que pelo corpo acede ao Mundo. O Sul, aberto à experiência radical e integral dos dons gretuitos que Deus põe no Mundo à disposição do Homem.

Talvez na cozinha de Babette possamos compreender um pouco melhor o que na Europa nos separa.