Breve História do esquecimento

Não nos será possível a condição contemporânea sem distanciamento. O homem contemporâneo permanece dessincronizado da sua época. Ainda que actual, estar dentro da actualidade não será condição suficiente. Torna-se imperioso viver o tempo de modo anacrónico, mas sem qualquer traço nostálgico nem de condenação do presente. O século, saeculum, nome primevo do tempo de vida, é a coragem de olhar o tempo, a época, para entender a obscuridade fundamental: “contemporain est celui qui perçoit en plein visage le faisceau de ténèbres qui provient de son temps”.
Ser contemporâneo é, por Agamben, manter uma relação particular com o tempo. Uma relação que será uma fractura entre o saeculum e as gerações, e será nessa fractura que eles se encontram. À contemporaneidade exige-se aperceber da obscuridade do presente, relacioná-la com outros tempos, através de uma leitura original da história. Citar a história em função de uma necessidade que provém de uma exigência à qual não se pode deixar de atender: a ultrapassagem do “agora” pela “luz invisível que é a obscuridade do presente”.
Este é um exercício que extravasa as aparências das coisas. Provavelmente, ao contrário, é este o mundo interior das coisas, o íntimo onde adquirem, constroem, o seu próprio sentido.

Coliseu | Roma / c.80

Ao contrário de uma ruína - a construção sujeita à imprevisibilidade do tempo que transcende o estreito território do projecto -  a pretensão de alguma arquitectura contemporânea é fazer uso do reportório da História sem que nos surpreenda qualquer hipótese de futuro ou sequer de reflexão sobre o passado. Ícones, imagens, espectros, fantasmas que fazem do nosso tempo o tempo da incerteza.
Ou isto ou talvez estejamos condenados a eternamente a experimentar e procurar, à luz da obscuridade que é a condição dos nossos olhos, aproximarmo-nos à Ideia de Platão.

Stadio della Roma | Dan Meis