sweet little sixteen

Um dia tocou o telefone. Do outro lado era a simpática voz do Charles Correa a perguntar: esqueceu-se de mim? Vem alguém buscar-me? Asneirada. Tinha chegado nesse dia a Lisboa. Sem tempo para mais nada saí do escritório a correr em direção ao aeroporto e peguei no carro que tinha mais à mão: um VW Lupo. Nas chegadas lá estava um dos mais extraordinários arquitectos do nosso tempo, a inseparável mulher e malas correspondentes a oito meses de viagens sem passar em casa. Muitas malas, portanto. Entre os pedidos de desculpa e a atrapalhação só quando chegámos ao carro é que percebi que não iamos caber todos. Chamava um taxi? Pedia reforços? Há protocolo para uma situação destas? Suspirei e confessei "I guess we have a problem". Ele sorriu e respondeu-me "Rodrigo, I´m from India. And in my country this car is a bus". Segui as orientações de quem percebia da coisa. Malas para a direita, pernas para a esquerda e outra por cima do tejadilho do Lupo agarrada com o braço de fora. Tipo Mumbai em Lisboa. Literalmente Mumbai em Lisboa. E lá fomos a rir compulsivamente pela cidade em direção ao hotel. Quando chegámos, ainda a rir, lá me agradeceu "I felt sixteen again on my the way to school". "Glad to be of service", respondi.  

Rodrigo Moita de Deus | 31 da Armada