Teologia Política













O poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente yada yada yada, a lenga-lenga dos petizes moralistas, sem entender que o poder obedece, por definição, à lógica da decisão, da escolha, da separação, da desunião, logo, da violência, da corrupção. Assim é desde que Caim matou Abel, assim será até à segunda vinda de Cristo.
House of Cards é obsceno. No sentido literal do étimo porque traz à cena aquilo a que não deveríamos ter acesso.
Não é a pequena política da West Wing. É o Poder. E o Poder, a lógica do poder - inversa da da Caridade (Amor) - sugere o Homem como Deus.
A Francis Underwood, a figura semi-divina, o paradoxal servil-king-maker, não interessa tanto chegar à Sala Oval, apesar de o parecer, a Francis Underwood interessa mais mandar sobre quem ocupa a Sala Oval. E é essa condição, auto-legitimada, que não deve justificação a nada nem a ninguém (so long checks & balances), amoral porque centrada em si mesmo e na Vontade de Poder, que dispõe da vida e da morte de acordo com esse desígnio total e totalitário.
E é esta ideia e esta praxis do Poder que constrói os estados contemporâneos, onde cada um de nós é apenas sujeito da grande máquina que escapa ao entendimento da vida quotidiana, da (nossa) vida narcotizada em consumo e desperdício que gera mais consumo e mais desperdício, a caminho, um pouco mais todos os dias, da servidão.
House of Cards é uma Teologia Política de um Mundo sem Deus e Francis Underwood o seu Sumo-Sacerdote.