Mitteleuropa













É reconfortante que a viagem tenha uma arquitectura e que seja possível contribuir com algumas pedras para esta última, embora o viajante pareça ser não tanto alguém que constrói paisagens – tarefa do sedentário – como alguém que as desmonta e desfaz, à semelhança do barão von R. descrito por Hoffman, que corria mundo coleccionando panoramas e, quando o considerava necessário para gozar ou criar uma bela perspectiva, mandava cortar árvores, desbastar ramos, aplanar as irregularidades do solo, abater florestas inteiras ou demolir fábricas que tolhessem o olhar. Mas também a destruição é uma arquitectura, uma desconstrução que segue regras e cálculos, uma arte de decompor e recompor, ou seja, de criar uma outra ordem: quando um muro de folhagens caía de súbito, abrindo a imagem das ruínas de um castelo longínquo na luz do crepúsculo, o barão von R. detinha-se alguns minutos a contemplar o espectáculo que ele próprio encenara e depois voltava a partir à pressa, para não mais ali regressar.

Danúbio | Claudio Magris, 1986