[R. Barata Ribeiro, Coapacana, Rio de Janeiro, 2011]
A promessa democrática cobriu-nos com o diáfano manto da
ilusão do progresso sem fim. Ou antes, que a arquitectura seria a visibilidade
construída do projecto político democrático, sustentado na crença profunda do
progresso ilimitado. Progresso material, apenas, ao arrepio do alarde utópico e
idealista das vanguardas de início do séc.XX.
A arquitectura ergueu ‘máquinas de habitar’, ainda que pouco
habitadas e habitáveis, mas manifestas da estética industrial e de engenharia
social.
Nefelibatas, arquitectos, acreditámos: as nossas escolas
são, ainda hoje, a caixa de ressonância do mecaniscismo estéril, do
racionalismo infecundo e do materialismo perverso, que serve tanto o desígnio
capitalista voraz, quanto o equívoco igualitário socialista. Capitalismo e
socialismo, os dois quadros políticos sem os quais, aparentemente, não nos é
permitido pensar, hoje, a realidade; capitalismo e socialismo, os dois lados do
mesmo totalitário pensamento materialista, e, ainda que se combatam
mortalmente, ou talvez por isso, não são mais que o monopólio do pensamento único que se exprime por
estas duas vias violentas. Assinale-se, este é o monopólio da razão utilitarista.
Se a construção da arquitectura é pôr-em-obra, necessariamente,
a relação de realidades estritamente mensuráveis, a arquitectura é a construção
de princípios impossíveis de aferir pela objectividade precisa.
Ainda que essencial, o quadro de áreas reveste-se hoje a forma do
princípio instaurador e constituinte da arquitectura. Sendo a exposição objectiva do valor material da realidade, sendo a realidade,
evidentemente, bastante mais larga que o seu resumo monetário, o dogma
financeiro – o racionalismo em todo o seu esplendor – é o regime totalitário da
construção (arquitectura?), o seu princípio, meio e fim e a sua redução à condição
de techné omitindo a poiética.
Mesmo ao mais radical optimista será tarefa de complexidade elevada
extrair beleza de um quadro excell.
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