onde estás?


[Praia do Botafogo, Rio de Janeiro]



Parado no ônibus no último semáforo da São Clemente. Abre o sinal e abre-se a Baía da Guanabara. Todas as manhãs, atrás entre o inferno do trânsito do Botafogo - passagem ente Norte e Sul, garganta da geografia absurda – e o display luminoso do iPod. À frente a luz luminosa o céu de um azul celeste celestial. A Coca-Cola no alto do prédio mais alto da Praia do Botafogo, sinal do tráfego nocturno da baía, luz néon artificial vermelho de Atlanta, igual a Tóquio, a mesma de Times Square: todos somos iguais, universalmente unidos no consumo. Um hambúrguer ou a possibilidade de escolher uma iguaria vietnamita ao lado do boteco nordestino. Somos um, somos todos, todos atravessamos o mesmo sinal. Já há novo governo em Lisboa?, reload a página do Público.
Troco o random dos dedos sobre o iPod, ou Mozart ou Einsturzende Neubauten entre uma chamada de Lisboa, onde estás?, uma mensagem para Londres, onde estás?, uma imagem de Buenos Aires, venha à Copa América. Propaganda dos lugares, economia das cidades. Onde estás? São Paulo Fashion Week, na propaganda seguinte, nos corpos padronizados das imagens glam de griffes globais. No ecrãn do ônibus a Rede Globo twitta em menos de 140 caracteres e uma imagem um novo governo em Portugal e um restaurante texano que serve bife de leão, separados pelos augúrios do dia para os sagatarianos. Português falado com acento alemão espanhol francês pernambucano babélia lusófona trans-oceânica.
Será que ela está no Pão de Açúcar? Onde estás? Estar-aí, ser-aí.
As manifestações tecnológicas do lugar, a privacidade dentro do espaço público e a extensão do lugar aberto e comum dentro da intimidade. Abre o sinal. Onde estás? Sábado encontramo-nos em Paraty. Virás a Belo Horizonte?, seguimos depois para Inhotim.
Lisboa, Rio de Janeiro, Londres, São Paulo, Buenos Aires, Paraty,  Belo Horizonte.
Onde estou?