achado na tradução


[Av. República do Paraguai, Lapa, Rio de Janeiro]




Cariocas e paulistas, blasées e excitados, patricinhas e mauricinhos, lisboetas e cariocas. Outra maneira de pensar a reinvenção do espaço a que o indivíduo procede, na voragem da(s) mobilidade(s). Lugares, sociais, geográficos, territoriais, afectivos, diversos, em que cada sujeito, cada vez mais, se movimenta. O recuo das fronteiras e limites e o corte, radical, das raízes. O paradoxo da mobilidade, em que a radicalidade, do mesmo étimo de raiz, é o golpe numa das âncoras do sujeito ao(s) lugar(es). E se a cedência das fronteiras, do desconhecido, é uma possibilidade de conhecimento, essa conquista da luz é levada em frente pela tibieza das raízes cada vez mais remotas. Um homem sem âncora é um naufrágio; um homem subjugado a fronteiras é um recluso. Mas há um outra hipótese.
A reinvenção do sujeito num espaço outro. A reinvenção dos lugares a partir da multiplicidade de fronteiras que se cruzam, de múltiplos outros com quem se chegou ao entendimento. Para um viajante é fácil: a última cidade é sempre o passado, sempre atrás da próxima curva que está em frente. Para um habitante, o passado é sempre o presente e o futuro uma construção sempre actual e reactualizada a partir de todos os homens e de todas as cidades atravessadas.
A mobilidade, que tende à rarefacção do sujeito quando instrumento da obrigação do ir, pode, no entanto, ser o espaço, o lugar, da construção de outro caminho, de outras fronteiras. Um viajante é, porventura, ao fim das cidades e do caminho, um ser híbrido. Um habitante, ao contrário, é todas as cidades e todos os caminhos e todos os homens, conhecidos e por conhecer. O reconhecimento da abertura e da autenticidade do ser, em todos os modos de se dizer e se desdizer.
Tradução exige recolhimento e conflito, representação e abertura da origem, das diferenças, ligando-as umas às outras na geração do ainda irreconhecível. Um lugar por desvelar.

A fronteira não se desfaz, refaz-se permanentemente. O conhecimento, o amor e a memória, presente permanente, são o caminho. Sempre inacabado.


[Rua Riachuelo, Lapa, Rio de Janeiro]