das casas e de outras coisas#2


[Balcão: Livraria, Rua do Século, 2007-...]

A escrita já me havia ensinado a incompatibilidade, não com o mundo, como pensam os imbecis, mas com o medo. O medo? Sim, o medo. O medo de encarar as diversas estéticas do mundo. O mundo é puramente estético. Mas raramente é santo. Era aí que eu queria atingir a sobriedade da casa, a pureza das suas linhas, a sua modéstia. Meras aparências para armadilhar as almas.


Nascemos de uma realidade normal e tão anormalmente misteriosa?

[O senhor de Herbais, Maria Gabriela Llansol, 2002]



O problema filosófico da estética contemporânea é precisamente o que fazer face ao impasse melancólico de que está acometida.
O real impõe presença. São as extensões das coisas, predicados do mundo, os atributos da representação que dele fazemos. O real, ainda antes do pensamento – também representação – é o confronto do corpo-no-mundo. Um ainda-não-pensado.
A realidade como articulação dos objectos entre si. Presentes, inapelavelmente presentes. E a realidade pode partir-se. Dividir-se na ignorância ou no desejo excessivo. Construir a realidade pelo do desejo supõe atenção, cuidado, mesura.
Sobre as ruínas, restos de palavras, imagens rasgadas: só depois do corpo, o desejo.